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TEXTOS

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HOJE A NOITE NÃO TEM LUAR
 

Ela sorria numa mesa de restaurante. A legenda dizia algo banal, como “noite boa” — e, mesmo assim, por alguma razão, aquilo me tocou fundo. Eu estava do outro lado da cidade. Ou talvez só do outro lado da cena.
 

Não era ciúme. Não era insegurança.
Não era medo de perdê-la.


Era outra coisa.

Uma sensação mais sutil, mais melancólica: a dor de não estar lá.
De não fazer parte daquele recorte de alegria que ela estava vivendo.


Eu sabia — e sei — que ela me ama.
Sei que um momento de prazer não define nada, nem ameaça o que temos.

E ainda assim, doía.

Não porque ela estava feliz - e eu estava feliz por ela - mas porque eu não fazia parte daquele pedaço da felicidade. É difícil explicar esse tipo de sentimento sem parecer frágil demais ou egoísta demais.


Mas ele existe.

Ele se instala sem pedir licença e sussurra:


“Esse momento podia ser nosso.”
“Eu queria estar aí.”
“Queria caber nesse agora.”

 

É curioso como o racional entende tudo — entende que está tudo bem, que cada um tem seu tempo, seus espaços, seus amigos e amores.

Mas o emocional é outro idioma. Ele não quer razão. Ele quer presença. Quer partilha.

 

Quer pertencimento.

 

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Não é sobre controle. Não é sobre posse.
É sobre querer estar junto no que é leve.
É sobre desejar ser incluído naquilo que dá riso, sol, memória.

 

Demorou para eu perceber que não há vilão nessa história. Ela não me excluiu. Não me evitou. Apenas viveu. E eu, do meu lado, senti.
 

Senti porque algo em mim ainda se comove com a beleza do que é dividido — e estranha a solidão do que poderia ser partilhado.


E tudo bem.


Tudo bem sentir essa dor sem fazer dela uma acusação.
Tudo bem reconhecê-la sem dramatizar.

Tudo bem dizer:


“Eu fiquei com vontade de estar lá.”
“Não é uma cobrança. É só um sentimento.”


“Ele passa.

 

Mas eu queria que você soubesse.”

 

Essa é uma dor que não exige reparo.
Só presença. Só escuta.

 

Porque amar também é isso: lidar com as pequenas ausências dentro dos amores. E aprender que nem tudo que nos fere é culpa de alguém — às vezes, é só a alma querendo lugar nas alegrias do outro.


Ainda sinto essa dor às vezes. Mas sem culpa, com menos peso.

Aprendi que a dor de não estar lá não me diminui — ela só mostra o quanto eu valorizo o estar junto de quem tanto importa.


E ela importa demais.

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Sobre o autor:

Max Barbosa
Adepto do frio na barriga. Amante das estrelas e da Lua. Fã de cachaça e receitas com manteiga - não margarina. Interessado na simplicidade perdida em meio a tantas explicações.

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