HOJE A NOITE NÃO TEM LUAR
Ela sorria numa mesa de restaurante. A legenda dizia algo banal, como “noite boa” — e, mesmo assim, por alguma razão, aquilo me tocou fundo. Eu estava do outro lado da cidade. Ou talvez só do outro lado da cena.
Não era ciúme. Não era insegurança.
Não era medo de perdê-la.
Era outra coisa.
Uma sensação mais sutil, mais melancólica: a dor de não estar lá.
De não fazer parte daquele recorte de alegria que ela estava vivendo.
Eu sabia — e sei — que ela me ama.
Sei que um momento de prazer não define nada, nem ameaça o que temos.
E ainda assim, doía.
Não porque ela estava feliz - e eu estava feliz por ela - mas porque eu não fazia parte daquele pedaço da felicidade. É difícil explicar esse tipo de sentimento sem parecer frágil demais ou egoísta demais.
Mas ele existe.
Ele se instala sem pedir licença e sussurra:
“Esse momento podia ser nosso.”
“Eu queria estar aí.”
“Queria caber nesse agora.”
É curioso como o racional entende tudo — entende que está tudo bem, que cada um tem seu tempo, seus espaços, seus amigos e amores.
Mas o emocional é outro idioma. Ele não quer razão. Ele quer presença. Quer partilha.
Quer pertencimento.